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terça-feira, 22 de março de 2011

La Loba - A Mulher Selvagem

Trechos do livro "Mulheres que Correm com os Lobos" de Clarissa Pinkola Estés
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Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente intuitivos e têm grande preocupação para com seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. Têm experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação. Têm uma determinação feroz e uma extrema coragem.

Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma instintiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos exterior e interior. Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e mentora dá sustentação às suas vidas interior e exterior.

De que maneira a Mulher Selvagem afeta as mulheres? Tendo a Mulher Selvagem como aliada, como líder, modelo, mestra, passamos a ver, não com dois olhos, mas com a intuição, que dispõe de muitos olhos. Quando afirmamos a intuição, somos, portanto, como a noite estrelada: fitamos o mundo com milhares de olhos.

O arquétipo da Mulher Selvagem, bem como tudo o que está por trás dele, é o benfeitor de todas as pintoras, escritoras, escultoras, dançarinas, pensadoras, rezadeiras, de todas as que procuram e as que encontram, pois elas todas se dedicam a inventar, e essa é a principal ocupação da Mulher Selvagem. Como toda arte, ela é visceral, não cerebral. Ela sabe rastrear e correr, convocar e repelir. Ela sabe sentir, disfarçar e amar profundamente. Ela é totalmente essencial à saúde mental e espiritual da mulher.

E então, o que é a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da psicologia arquetípica, bem como pela tradição das contadoras de histórias, ela é a alma feminina. No entanto, ela é mais do que isso. Ela é a origem do feminino. Ela é tudo o que for instintivo, tanto do mundo visível quanto do oculto - ela é a base. Cada uma de nós recebe uma célula refulgente que contém todos os instintos e conhecimentos necessários para a nossa vida.

Ela é a força da vida-morte-vida; é a incubadora. É a intuição, a vidência, é a que escuta com atenção e tem o coração leal. Ela estimula os humanos a continuarem a ser multilíngües: fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão, da poesia. Ela sussurra em sonhos noturnos; ela deixa em seu rastro no terreno da alma da mulher um pêlo grosseiro e pegadas lamacentas. Esses sinais enchem as mulheres de vontade de encontrá-la, libertá-la e amá-la.

Ela é idéias, sentimentos, impulsos e recordações. Ela ficou perdida e esquecida por muito, muito tempo. Ela é a fonte, a luz, a noite, a treva e o amanhecer. Ela é o cheiro da lama boa e a perna traseira da raposa. Os pássaros que nos contam segredos pertencem a ela. Ela é a voz que diz, "Por aqui, por aqui".

Ela é quem se enfurece diante da injustiça. Ela e a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos. É à procura dela que saímos de casa. É à procura dela que voltamos para casa. Ela é a raiz estrumada de todas as mulheres. Ela é tudo que nos mantém vivas quando achamos que chegamos ao fim. Ela é a geradora de acordos e idéias pequenas e incipientes. Ela é a mente que nos concebe; nós somos os seus Pensamentos.

O companheiro certo para a Mulher Selvagem é aquele que tem uma profunda tenacidade e resistência de alma, aquele que sabe mandar sua própria natureza instintiva ir espiar por baixo da cabana da alma de uma mulher e compreender o que vir e ouvir por lá. O bom partido é o homem que insiste em voltar para tentar entender, é o que não se deixa dissuadir.

Portanto, a tarefa primitiva do homem consiste em descobrir os nomes verdadeiros da mulher, não em usar indevidamente esse conhecimento para ganhar controle sobre ela, mas, sim, para captar e compreender a substância luminosa de que ela é feita, para deixar que ela o inunde, o surpreenda, o espante e até mesmo o assuste. Também para ficar com ela. Para entoar seus nomes para ela. Com isso os olhos dela brilharão. E os dele também.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Mulheres na Jornada do Herói

De que forma se entrelaçam o feminino, a mitologia, e as manifestações do sagrado na vida cotidiana? Partindo desse questionamento, as autoras do livro "O feminino e o sagrado - as mulheres na jornada do herói" entrevistaram 15 mulheres, cujas histórias compõem a obra. Tomando como base as etapas da jornada do herói, modelo mitológico descrito por Joseph Campbell, elas revelam histórias fortes de mulheres que tiveram a coragem de buscar o sagrado, pagando às vezes um alto preço por isso.
Neste livro estão guardadas histórias de vida de 15 mulheres diferentes. Em suas páginas, elas sussurram, cantam e dançam, sem medos nem pudores. Seus depoimentos são como relatos de viagens, nos quais falam de caminhos percorridos, obstáculos e superações. Com base nesses relatos, Cristina Balieiro e Beatriz Del Picchia organizaram uma obra sensível e profunda, capaz de inspirar mulheres (e homens também) a questionar-se a respeito dos próprios caminhos. O fio que liga as histórias é a análise de Joseph Campbell a respeito da jornada do herói. Transpondo essa análise para uma perspectiva feminina, as organizadoras mostram que é possível a uma mulher mudar completamente e ficar ainda mais próxima de si mesma.

domingo, 20 de junho de 2010

A Deusa Tecelã

Dos tempos que se perdem nas brumas, emerge majestosa a Grande Deusa Tecelã, aquela que, assim como faz a aranha até os dias de hoje, produziu do seu ventre os fios que formam a estrutura do universo. Estes mesmos fios que, ao se organizarem e reorganizarem continuamente, formam todos os diferentes elementos que compõem o mundo múltiplo, variado e diverso. Contendo tudo que foi, é e será, sua teia-vida estabelece as relações mútuas que vinculam esta grande variedade de seres no que a Ciência denomina de Campo Unificado de Energia ou Consciência.

No Egito Antigo, esta fiandeira cósmica era conhecida como a Deusa Neit. Dela emanam os fios essenciais que se interconectam na teia multidimensional, a estrutura básica de tudo que existe no universo. Dela também emana o primeiro movimento da criação, que se desdobra no trançar dos fios em infinitas possibilidades, que vão tecendo a realidade cósmica.

A Grande Deusa fia e tece toda a existência do caos bruto em realidade. Por isto, o fiar e o tecer são, desde os primórdios, atribuídos ao universo feminino. A magia que permite transmutar lã, seda, linho, algodão ou outro material vegetal em fio e com ele tecer panos para os mais variados usos, permitiu aos nossos ancestrais sobreviverem nas regiões mais frias e mais quentes do planeta. E esta magia era realizada pelas mãos das mulheres, sob a inspiração da deusa.

A mais conhecida tecelã é a deusa grega Atena, patrona de todas as artes e ofícios. Como todas as divindades, ela ilumina um amplo espectro da existência humana. Quando nos desvencilhamos do viés patriarcal, que enfatiza seus aspectos relacionados com o mundo masculino, percebemos que a maior entre as dádivas de Atena é imbuir com alma todos os trabalhos civilizatórios. Em assim fazendo, ela propicia a nós mulheres uma compreensão do valor e da importância de nossos poderes criativos. Ela nos mostra como tecer o sagrado em todos os atos cotidianos.

De sua origem anterior à vinda dos helenos para a Grécia, ela incorpora a sabedoria aquática e intuitiva de sua mãe Métis, uma oceânide, finamente sintonizada com os sutis processos de transformação que ocorrem continuamente na vida das pessoas, receptiva aos sentimentos pessoais, poéticos e sensíveis, próprio do princípio feminino. Ao mesmo tempo, representa o saber abstrato, manifestado através da produção artesanal, da arte da guerra, do poder institucionalizado, introduzido pelo princípio masculino. Em sua virgindade, ela integra espírito e alma, apontando o caminho para nos relacionarmos a partir de nossa integridade, de nossa autonomia.

Na tradição hindu, a deusa tecelã recebe o nome de Maya. Posicionada no centro de sua teia, ela não apenas tece a ordem cósmica, mas a reproduz em nosso mundo dos sentidos de forma tão perfeita, que não distinguimos entre a realidade em si e nossa versão dela. Assim como Maya se posiciona no centro da teia cósmica, cada ser humano percebe a si mesmo como o centro da própria existência. Da perspectiva psicológica, cada qual fia e tece sua própria realidade, a partir de um centro que denominamos de Eu.

Mas, ao tecermos nosso próprio tecido, nossa própria individualidade, não devemos perder a noção de que estamos conectados com todos os demais seres, por meio do fio de que é feita a grande teia. Como emanações que somos da Grande Deusa Tecelã, todos nós somos constituídos da mesma substância e compartilhamos a essência divina dos fios de Neit.

Tecer significa ativar e misturar nossas experiências de vida, para produzir um padrão individual, único e inimitável, aquilo que distingue cada qual dentre todos os seres no cosmos. Quando permitimos que uma nova experiência se integra no nosso viver, quando não tememos as transformações que isto inevitavelmente traz consigo, estamos tornando nosso padrão pessoal mais complexo e, com isto, enriquecendo o padrão coletivo. Tornamo-nos co-criadores da grande teia.

Como co-criadoras, participamos na criação do nosso próprio destino individual e coletivo. Pois o destino também é atributo de deusas tecelãs. Na mitologia nórdica, tão rica em histórias que envolvem o fiar e o tecer, o destino é decretado pelas Nornas, que compunham a teia do destino com uma miríade de fios e linhas. A mais velha das três, que também parece ter sido a mais antiga, está sempre sentada ao lado de uma fonte, a Fonte de Urd, onde o próprio Odin foi buscar conselho e conhecimento.

Fiar está arrolado entre os ofícios mais antigos conhecidos, cujas origens se perdem na pré-história. Para as comunidades Kajaba da Colômbia, a condição para ser mulher é saber fiar e tecer, um ofício cujos segredos são transmitidos às jovens moças, quando de sua reclusão na tenda vermelha. Seu mito da criação diz que, quando a Mãe Universal fincou seu imenso fuso verticalmente na terra recém criada, dele se desprendeu uma fibra de fio de algodão, com a qual traçou um círculo, declarando que esta seria a terra de seus filhos. Como uma atividade desempenhada pelas mulheres em suas casas, desde a antiguidade até a revolução industrial, o processo de fiar e tecer tornou-se uma simbologia poderosa para a criação de nova ordem a partir do caos, definindo o destino humano.

E a força desta simbologia também manifesta sua influência na elaboração da moderna Teoria das Cordas, que se utiliza da imagética da fiação, descrevendo o tecido microscópico de que é feito nosso universo multidimensional como ricamente urdido a partir de cordas que vibram sem cessar e, com sua vibração, introduzem o ritmo da vida no cosmos.
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Por Monika Koss
Fonte: Espaço Caldeirão - http://www.monikavonkoss.com.br/

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A Inúmera

"Esta sou eu - a inúmera.
Que tem de ser pagã como as árvores
e, como um druida, mística.
Com a vocação de mar, e com seus símbolos.
Com o entendimento tácito, instintivo,
das raízes, das nuvens,
dos bichos e dos arroios caminheiros.
Andam arados, longe, em minha alma.
Andam os grandes navios obstinados."

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Cecília Meireles

(Adorei este pequeno poema sobre o Sagrado feminino!)

domingo, 20 de dezembro de 2009

TARA - A Senhora do Barco

A Deusa Tara é o arquétipo da nossa própria sabedoria interna. Guia-nos e nos protege nas profundidades de nossas mentes inconscientes, ajudando a trazer para o consciente, nossas viagens pessoais rumo à liberdade. É Tara quem atravessa seus adoradores em segurança por sobre o oceano da existência fenomênica. Ela conduz a alma que atravessa a corrente do samsara rumo à distante margem do nirvana. Tara pode incessantemente salvar as criaturas em seu aspecto de "Senhora do Barco", pois o mar inteiro é o brincar cintilante e ondulante de sua shakti (energia feminina). Desta torrente desordenada da vida emergem, em todas as épocas, alguns indivíduos que já estão amadurecidos para salvação, na metáfora de Buda, à semelhança das flores de lótus que se erguem do espelho das águas e abrem suas pétalas à ininterrupta luz celeste.
O barco representa um símbolo de salvação, comum a toda humanidade. Tara, portanto, é a Grande Deusa Bondosa capaz de acalmar a correnteza.
A Tara Verde (na imagem acima) é representada sentada sobre uma flor de lótus emergindo de um lago. Sua cor como seu nome indica que é verde. Sua mão direita faz o "mudra de dar", indicando sua habilidade para dar a todos os seres o que necessitam, enquanto sua mão esquerda colocada em seu coração faz o "mudra de dar refúgio". Em cada mão sustenta o talo de uma flor de lótus com uma flor aberta e dois botões que indicam o alcance de sua atividade no passado, no presente e no futuro.
Veste roupas reais, multicoloridas e uma blusa ornamentada com jóias. Na cabeça há uma tiara com jóias e um rubi ao centro que simboliza a Amitabha, seu pai espiritual da família búdica do lótus. A perna esquerda encolhida sobre o lótus indica sua renúncia as paixões mundanas, a perna direita estendida e saindo da flor, indica sua presteza para acudir e ajudar todos os seres.
No Budismo a cor verde está associada com atividade e realização. A Tara Verde deve ser invocada para remover obstáculos, para proteção e em situações de medo.
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INVOCAÇÃO:
Para invocar a força da Tara Verde, concentre-se na questão e peça clareza à divindade. Visualize Tara como uma forte luz verde-esmeralda a sua frente, enquanto recita ou canta o mantra:
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OM TARE TUTTARE TURE SOHA
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Concentre-se no pedido, visualize a luz verde a sua frente se intensificando e penetrando no topo de sua cabeça. Enquanto ela entra em seu corpo, purifica suas dúvidas e medos. Quando se sentir calmo e seguro, veja a luz verde descer, passando pela garganta até fundir-se com seu coração. Permaneça nesse estado o tempo que puder, cultive o sentimento de confiança de que sua meditação foi realizada com sucesso e seu pedido será atendido ou o problema solucionado. Para finalizar, dedique essa energia a todos os que necessitam da positividade que você acumulou fazendo a meditação.
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O SIGNIFICADO DO MANTRA:
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OM: O sagrado corpo, palavra e mente dos Budas.
TARE: Palavra que liberta de apegos e sofrimentos temporais e dos três reinos inferiores.
TUTTARE: Palavra que liberta de apegos e sofrimentos do samsara e dos três reinos inferiores.
TURE: Palavra que liberta dos obscurecimentos sutis, apegos a paz pessoal e do pensamento da felicidade perfeita individual.
SOHA: Possam essas bênçãos chegar ao coração e a mente.
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Fonte: Site da Rosane Volpatto
http://www.rosanevolpatto.trd.br/deusatara.html
obs.: tomei a liberdade de alterar a ordem do texto para facilitar o entendimento.

sábado, 3 de outubro de 2009

A Sabedoria dos Ciclos Femininos


Por Patricia Cuocolo (Espaço Integração)

A mulher é portadora de uma das funções mais sagradas que é ser a “Guardiã dos Ciclos”. Nas culturas ancestrais, ela era reverenciada e associada ao próprio Princípio Divino Feminino, pois trazia em seu vaso sagrado (ventre) a possibilidade de criar vida de dentro do seu próprio corpo e nutrir essa vida com o alimento gerado dentro dele. Ela era a própria criação.

O período da Menstruação era o período que elas se retiravam para a Tenda Vermelha para realizarem seus rituais, para se regenerarem, para se conectarem com suas ancestrais e sua intuição. Utilizavam o poder de purificação das ervas e fertilizavam a terra e seus projetos com o poder do sangue menstrual. Vertiam seu sangue diretamente na terra , o sangue era o poder da vida e era responsável por gerar vida.

No Antigo Egito muitos faraós antes de serem enterrados eram pintados com o sangue menstrual para a garantia de seu renascimento.
Lua, Sangue e Mulher sempre estiveram associadas. Em várias línguas as palavras menstruação e Lua são as mesmas ou estão relacionadas. Notem que “mens” significa “Lua”.O momento da menstruação é o momento que a Mulher está com os “portais” abertos, pois quando o sangue verte, algo na mulher está morrendo para renascer.

O endométrio se descola da parede do útero para iniciar o processo de regeneração. A partir desse ponto o útero se prepara para receber uma nova vida, que pode ser um filho, ou alguma produção criativa, como um projeto novo, um relacionamento, um trabalho, uma amizade, um caminho espiritual, entre outros.

A essência da mulher é ser portadora dos ciclos de vida - morte - vida, e quando ela não dá atenção para essa natureza sábia - que tem sua representação máxima no ciclo menstrual, acaba muitas vezes adoecendo do corpo e da alma.

TPM, cólicas, dificuldade de engravidar, doenças no útero, ovários e seios, podem ter origem no fato da mulher ter se distanciado de sua natureza cíclica e sábia, onde sua capacidade de silenciar para ouvir a própria intuição e as mensagens de seu reino interior ficou para trás, com prejuízos drásticos para seu equilíbrio físico - psíquico - espiritual .

Uma das formas de reconexão com essa natureza é criar o hábito de analisar os ciclos, anotar a lua que geralmente chega a Menstruação (a Velha Sábia), e aprofundar na essência mutável de cada fase da Lua - (Lua Nova - o início dos ciclos, Lua Crescente - o amadurecimento , Lua Cheia - a colheita , Lua Minguante - a avaliação do que continua e do que escolho me desapegar para dar início a um novo ciclo) .

Outra maneira é participar de Círculos de Mulheres , onde através do olhar, dos gestos, da palavra e da dança de cada uma , é resgatado novamente o poder dos Mistérios Sagrados Femininos e onde são curadas as feridas da Alma da Mulher!


domingo, 27 de setembro de 2009

Vamos curar a TERRA?


A nossa querida mãe terra - GAIA - está precisando de CURA, muita cura. Estamos vivendo na era do consumismo desenfreado, na qual está imperando no mundo o modelo americano capitalista (fruto do patriarcado), que visa o lucro e o poder. Em nome disso, muitas indústrias degradam o meio ambiente sem pensar nas gerações futuras.

A ordem do capitalismo é vender, vender e gerar cada vez mais lucro. Por outro lado, as pessoas entram num ciclo vicioso de comprar aquilo que não precisam para impressionar pessoas que nem conhecem. Este é um modelo de absurdas inversões de valores que geram as disparidades e crueldades que estamos vendo nos reinos da natureza. E o pior é que essa neurose coletiva está acarretando diversas doenças, desde a ansiedade, a síndrome do pânico até a depressão. Claro, essa cultura leva a um vazio interno muito grande. É preciso repensarmos a nossa vida, a nossa sociedade, este modelo que estamos vivendo sem nenhum questionamento.

Retrocedendo um bocado na história para tentarmos entender as raízes do patriarcado, verificamos que no período Neolítico, que durou cerca de 10 mil anos, predominava naquela época a sociedade matriarcal - onde havia a cultura de caça para a sobrevivência, e a mulher era vista como um ser sagrado, visto que somente ela tinha o poder de gerar a vida. A transição do período Neolítico para a Idade dos Metais (período marcado pelo início da fabricação de instrumentos metálicos) foi marcado pelas lutas por conquista de territórios e terras férteis para o plantio, em que começaram a surgir as primeiras aldeias, depois as cidades, Estados, Impérios, e assim sucessivamente, criando-se as sociedades patriarcais, em que predomina a lei do mais forte. Nesse contexto, a mulher foi ficando reduzida ao âmbito doméstico; e junto com isso os valores "femininos" (cuidar, nutrir, proteger) também foram sendo relegados a segundo plano.

O atual movimento de retorno do Sagrado Feminino é uma tentativa de resgatar os valores do "feminino" - tanto no nível individual quanto no coletivo - pois enquanto privilegiarmos os valores ligados ao "masculino" (luta, poder, conquistas), estaremos colaborando com este desequilíbrio do patriarcado, que gera guerras, conflitos e também a devastação do nosso planeta. O ideal é trilharmos o CAMINHO DO MEIO, pois tanto os valores masculinos e femininos são igualmente importantes se vivenciados com sabedoria e equilíbrio.

No meu ponto de vista, a melhor solução é sempre a busca pelo autoconhecimento e a valorização do sagrado em nossas vidas. Ao ampliarmos a nossa consciência, deixamos de ser vítimas manipuláveis deste modelo capitalista doentio e passamos a ser agentes de transformação. Compreendemos que a nossa verdadeira busca é interna. Fortalecemos o nosso centro de poder (nosso coração) e com isso aprendemos a viver cada dia em total presença no momento presente. Íntegros, inteiros, verdadeiros. Este preenchimento interior nos permite deixar fluir a nossa vontade e a nossa luz, o que nos leva a um sentido de felicidade, plenitude, de respeito aos nossos limites e também dos outros, e de reencontro com o divino em nós.
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Kátia Bueno

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O resgate individual com Ártemis


Texto de Rosane Volpatto

Todos nós conhecemos a imagem de Ártemis (Diana, para romanos), que foi esculpida e pintada como uma Deusa Lunar esguia, virginal, acompanhada de cães ou leões e trazendo um arco dourado nas mãos. Ela era a deusa mais popular da Grécia. Ela habita as florestas, bosques e campinas verdejantes, onde dança e canta com ninfas que a acompanham. Ártemis/Diana era o ideal e a personificação da vida selvagem da natureza, a vida das plantas, dos animais e do homens, em toda sua exuberante fertilidade e profusão. Rodeava à Ártemis uma pureza, um inflexível autonomia, que conectava os amplos espaços inexplorados da natureza com a solidão que todo o ser humano precisa para descobrir uma identidade única.


O Arquétipo da feminilidade desta Deusa-Virgem, começa a se tornar importante novamente. Por muito tempo permanecemos à sombra da feminilidade absoluta, sob a influência de uma realidade masculinizada.
Ártemis/Diana é tão linda quanto Afrodite e nos fala que a solidão, a vida natural e primitiva pode ser benéfica em algumas fases de nossa vida. Amazona e arqueira infalível, a Deusa garante a nossa resistência a uma domesticação excessiva. Além disso, como protetora da fauna e flora, ela é uma figura associada à ecologia contemporânea, onde há necessidade de salvaguardarmos o que ainda nos resta.


Uma parte deste redespertar da espiritualidade artemisiana já vem ocorrendo há vários anos na Europa, mas já chegou também ao Ocidente. Na Grã-Bretanha, redescobriu-se a antiga Deusa Branca dos celtas, graças ao maravilhoso livro "White Goddess", de Robert Graves. Hoje já há também uma nova compreensão sobre feitiçaria, sob o nome de Wicca. 


Esta religião-arte, nada mais é do que a "antiga religião" de Diana/Ártemis. Aquelas mulheres que praticavam o culto à Deusa Diana vieram a ser identificadas com as chamadas bruxas e foram perseguidas e exterminadas. 

Entretanto, junto com a Wicca e outros movimentos semelhantes, está ocorrendo uma importante ressurreição das antigas tradições xamânicas e de cura nos quatro cantos do mundo. Todos os tipos de neo-pagãos têm buscado as origens reais ou reconstruídas do xamanismo.
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Reflexão de Ártemis (extraído do Oráculo da Deusa - por Amy Sophia Marashinsky):
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Ártemis atira-lhe sua flecha da individualidade, convidando-a(o) a concentrar-se em si mesma(o). Você tem estado demasiadamente ocupada(o) com outros que esquece de si mesma? Há bastante tempo não tem um espaço só seu? Os limites de sua individualidade encontram-se difusos e indistintos? Sua personalidade é desprezada ou aniquilada pelos outros, pois eles sempre impõe suas necessidades antes das suas? Pois aqui e agora é hora de ser você mesma(o), se impor como pessoa com identidade própria e não viver mais a vida dos outros. 

É hora de seu resgate individual, de celebrar e fortalecer a pessoa maravilhosa que você é. Ártemis lhe diz que a totalidade é alimentada quando você se honra, se respeita e dedica um tempo para si mesma. Ela também pergunta como você pode esperar conseguir o que quer se não tiver um "eu" a partir do qual atirar para alcançar seu objetivo?
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Fonte (leia o artigo na íntegra) em: http://www.rosanevolpatto.trd.br/deusadiana.html

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Abraçando a sombra com Inanna

Por Rosane Volpatto
"Fui até lá
de livre vontade
Fui até lá
com meu vestido mais lindo
minhas jóias mais preciosas
e minha coroa de Rainha do Céu
No Inferno
diante de cada um dos sete portões
fui desnuda sete vezes
de tudo o que pensava ser
até que fiquei nua daquilo que de fato sou
Então eu a vi
Ela era enorme e escura e peluda e cheirava mal
tinha cabeça de leoa
e patas de leoa
e devorava tudo que estivesse à sua frente
Ereshkigal, minha irmã
Ela é tudo o que eu não sou
Tudo o que eu escondi
Tudo o que eu enterrei
Ela é o que eu neguei
Ereshkigal, minha irmã
Ereshkigal, minha sombra
Ereshkigal, meu eu"



Trecho de um artigo de autoria de Rosane Volpatto


Inanna era a Deusa da Suméria responsável pela reprodução e fecundidade, prolongamento da tradição das "Deusas-Mães" atávicas. Inanna, certa vez, tomou a iniciativa de fazer uma visita ao deus da sabedoria, que morava no Abzu, o céu dos deuses sumérios, a morada deles. Tinha como propósito honrá-lo e lhe proclamou uma oração. Enki era o deus sumério que conhecia as leis do céu e da terra, o coração dos deuses, assim como todas as coisas. Inanna era a Rainha do Céu e da Terra, mas não sabe nada do submundo e sua missão agora é desvendar seus segredos. Ela descerá para presenciar os rituais de sepultamento de Gugalana (grande touro do céu), marido de sua irmã-avó Ninlil-Ereshkigal, Rainha do Submundo que reinava sobre os 7 infernos dos submundos. Inanna deveria testemunhar de modo presente a sombra reprimida do Deus celeste, o fato dele ter sido um estuprador e por isso mandado para o mundo subterrâneo como castigo.

Haviam 7 portais que Inanna deveria cruzar rumo ao seu objetivo final. Em cada uma destas portas se vê despojada de seus instrumentos de poder, desde sua coroa até suas vestes. No sétimo e último portal, totalmente nua encontra-se com Ereshkigal, sua irmã e rival. 

A retirada de todos seus pertences se faziam necessário, porque o "ego" tentaria se defender com todos os seus poderes conscientes. A coroa de Inanna, por exemplo, significava o seu poder intelectual. 

Suas jóias e adornos, simbolizavam seu poder de agir e a sua habilidade crítica de julgar. As suas vestes reais, seriam as defesas de seu psique e uma das formas de proteção contra tudo e todos. Totalmente nua, seria a única forma com que Inanna poderia se relacionar com sua sombra. Neste estado vulnerável, Inanna enfrenta sua irmã (sua sombra), é presa e crucificada num poste do mundo inferior, constituindo-se numa imagem de divindade feminina agonizante. Como qualquer iniciada, ela se rende corajosamente ao próprio sacrifício, para ganhar nova força e conhecimento. Como a semente que morre para renascer, a Deusa se submete. 

Sozinha e na escuridão, Inanna decompõe-se. Mas nem tudo está perdido, esta experiência e a aceitação de sua vulnerabilidade, a descoberta da necessidade do sacrifício e da morte para que os ciclos da vida se perpetuem, aumentam o poder de Inanna, assim como sua compreensão e beleza. Inanna oferece-se em sacrifício, testemunha a morte das forças férteis e traz a si mesma como semente. E de sua imolação voluntária depende a continuidade da criação. A idéia fundamental é de que a vida só pode nascer do sacrifício de outra vida.

É Ninshubur que dá o alarme depois que Inanna se ausenta por mais de três dias, conclamando mulheres e homens e pedindo a intercessão dos deuses celestes em favor da Deusa. Ambos os deuses, o celeste e o lunar, recusam-se ou não ousam resgatar Inanna do local de estagnação do Mundo Inferior. É somente de Enki que receberá ajuda. Ele é o deus da sabedoria, que mora no fundo do abismo. Em vários mitos ele aparece ao lado de Inanna. Da sujeira que estava embaixo das suas unhas pintadas de vermelho de uma de suas mãos ele cria Kurgarra e da sujeira da outra, Kulatur. Eles são descritos como criaturas que representam a atitude fundamental para atrair as bençãos da Deusa Escura.
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Refletindo:
Inanna marcha com determinação para o mundo inferior, indo de maneira ativa e consciente para o auto-sacrifício. É assim que a mulher moderna tem que aquiescer e cooperar na introversão e regressão necessárias ao mundo subterrâneo, o mundo dos níveis arcaicos e mágicos da consciência. Deve descer para encontrar seus começos instintivos e encarar a face da Grande Deusa, e a sua própria antes de ter despertado para a consciência. Deve ir até a matriz das energias transpessoais antes de elas terem sido liberadas e tornadas aceitáveis. É o sacrifício do que está em cima em favor do que está embaixo. A Terra e o Mundo Subterrâneo vistos como uma descida, e também como um processo de transformação, não apenas correspondem à experiência de muitos indivíduos em processo de individualização, mas ainda, pode demonstrar que se trata de um evento coletivo da cultura moderna como um todo.

Imagem: Carta do Oráculo da Deusa
Fonte: Trecho do artigo de Rosane Volpatto -

domingo, 19 de julho de 2009

Livros sobre o Sagrado Feminino

Mulheres que correm com os Lobos - Clarisse Pinkola Estés - Através da interpretação de 19 lendas e histórias antigas, entre elas as de Barba-Azul, Patinho Feio, Sapatinhos Vermelhos e La Llorona, a autora identifica o arquétipo da Mulher Selvagem ou a essência da alma feminina, sua psique instintiva mais profunda. E propõe o resgate dese passado longínquo, como forma de atingir a verdadeira libertação.
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Anuário da Grande Mãe - Mirella Faur - constitui-se no mais completo estudo sobre a Deusa publicado em língua portuguesa, e é o grande auxiliar na descoberta e celebração da energia renovadora e transmutativa do Sagrado Feminino.Os praticantes solitários e os grupos encontrarão também informações indispensáveis para os rituais, festejando a Roda do Ano através dos Sabbats e dos Esbats. As mulheres poderão melhor sintonizar-se com os ciclos da Lua, compreendendo como fluir com as suas fases e como conectar-se com as Deusas Lunares correspondentes. O leitor aprenderá a usar os ensinamentos das antigas tradições na sua vida moderna e descobrirá como enriquecer seu cotidiano com as bênçãos de mais de seiscentas Deusas provenientes das culturas dos cinco continentes.
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O Legado da Deusa - Ritos de Passagem para Mulheres - Mirella Faur - 'O Legado da Deusa´ analisa o culto do caráter sagrado feminino ao longo dos tempos. A obra traz exercícios e práticas para facilitar o acesso à voz interior por meio da meditação, imaginação e introspecção; ensina e descreve como realizar rituais que celebram a feminilidade, determinam passagens e estágios, reconhecem e transmutam perdas e marcam a vida da mulher.
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Todos os nomes da deusa - Joseph Campbell - A Bíblia judaico-crista nos remete a um Pai Criador masculino, fonte de toda a vida. Porém muitas das primitivas histórias conhecidas da Criação falam sobre uma Grande Mãe: uma doadora e nutridora feminina da vida, a Deusa dos animais, das plantas, das águas, da terra e do céu. Em 'Todos os nomes da Deusa' , última obra de Joseph Campbell, são analisados os temas vigorosos, as raízes profundas e as inspirações mais intensas da humanidade. E, acima de tudo, ressalta o conceito fundamental que confirma a visão definitiva de Goethe: o Eterno Feminino nos impulsiona.
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As deusas e a mulher - Jean Shinoda Bolen - Através dos arquétipos que moldam a existência feminina, a autora faz considerações a respeito dos padrões interiores femininos. Esses padrões são responsáveis pelas diferenças entre as mulheres. Compreender sua ação e inter-relação é a chave para o autoconhecimento e a busca de integridade.
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As Deusas e a Mulher Madura - Jean Shinoda Bolen - Anciã, mulher madura, mulher sábia, 'coroa suculenta', são expressões que a autora, analista junguiana, emprega para descrever a mulher com mais de 50 anos, aquela mulher que já cumpriu os papéis de donzela, de esposa, de mãe, de profissional e tantos outros, e agora pode usar a sabedoria adquirida para viver o papel dela mesma, com entusiasmo, humor, compaixão e desapego. A anciã sábia tem, dentro de si, as peculiaridades de um ou mais arquétipos, que são melhor compreendidos através do estudo de deusas das antigas eras e também de deusas que continuam sendo celebradas atualmente. 'As Deusas e a Mulher Madura' é um livro que vai tornar possível à mulher de qualquer idade aprofundar e realizar sua natureza feminina.
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O anel do poder - Jean Shinoda Bolen - A criança abandonada, o pai autoritario e o feminino subjugado. Os primeiros livros de Jean Shinoda Bolen inspiravem-se nos padrões arquetípicos presentes no homem e na mulher, e o fazia a partir de deuses e deusas gregos mostrando como eles atuam sobre os valores patriarcais que premiam alguns arquétipos e punem outros. Esses mesmos deuses e deusas constituem agora o ponto de partida deste livro, mas com nomes germânicos e personalidades mais humanas e complexas.
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O Caminho de Avalon - Mistérios femininos e a busca do Santo Graal - Jean Shinoda Bolen - Um livro sábio e instigante propõe uma busca do espiritual. A leitora assinala o "retorno da deusa" como um dos sinais característicos de nossa era.
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Milionésimo Círculo: Como Transformar a Nós Mesmas e ao Mundo... Jean Shinoda Bolen - O Milionésimo Círculo propõe nada menos que a possibilidade visionária de que círculos de mulheres podem acelerar a mudança da humanidade para uma era pós-patriarcal. Com diretrizes sobre como e com quem formar um círculo, ou como antecipar e resolver conflitos em potencial, Jean Shinoda Bolen fornece ferramentas e inspiração para mulheres que querem criar novos círculos ou aprofundar e transformar círculos já existentes em veículos de mudança social, cultural e psico-espiritual.
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sábado, 11 de julho de 2009

Resgatando nosso Anel de Poder

"Há vários milhares de anos, desde a que as tribos guerreiras indo-europeias com deuses do céu subjugaram os pacíficos povos adoradores de deusas na velha Europa, a patriarquia ocidental manteve ativamente os valores e a autoridade femininos, as deusas e as mulheres no “seu lugar”, que é o mesmo que dizer que tudo o que é considerado feminino foi dominado, denegrido, negado e ativamente oprimido.

(…) As Árvores e nascentes eram sagradas para a deusa e para os druidas. Assim o freixo do mundo e a nascente também são símbolos da deusa. Construíram-se igrejas em cima dos lugares sagrados nas Ilhas britânicas e na Europa. Os povos que aí prestavam culto foram perseguidos e ultrajados como pagãos e idólatras pelos cristãos.
(…) Regressar à consciência neste tempo de transição é uma crescente tomada de consciência da sabedoria feminina e da sua repressão, uma recordação mantida viva na mitologia que descrevem o desaparecimento da Deusa da Sabedoria.(…)

PARA ALÉM DE VALHALLA: COMO UMA DIMENSÃO PESSOAL PÓS-PATRIARCAL

A patriarquia tem um profundo domínio sobre as nossas vidas interiores, da mesma maneira que o poder domina o mundo exterior em que vivemos. Se o Valhada (o Castelo de Vottan) desaparece e o anel de poder é resgatado pelo self, é coisa que cada um de nós tem de decidir por si, se for capaz. O exemplo de Brunnhilde (a valquíria, filha de Vottan) mostra-nos o que podemos aprender com a vida. Quando atravessamos o sofrimento, aceitando a nossa sombra em lugar de a projetarmos sobre os outros, enfrentamos a verdade com compaixão, e temos a coragem de agir com integridade, as nossas defesas e recusas ficam para trás e podemos ver com clareza, e saber o que verdadeiramente importa. Descobrimos então que possuir alguém ou alguma coisa, obter poder sobre os outros, tornar-se famoso agora ou na vida futura, ou conseguir vingança, já não são metas compulsivas. Só então é que é provável que descubramos que existe uma fonte de sabedoria e de cura no mais profundo de nós, que é ouro puro da psique, o amor.(...)"

Trechos do livro O ANEL DO PODER de Jean Shinoda Bolen

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A tradição da Deusa

Durante os últimos três milênios, as principais religiões do mundo cultuaram o Princípio Divino Masculino. Apesar das diferenças entre os conceitos, dogmas e práticas do judaísmo, islamismo e cristianismo, a Divindade Suprema é personificada por arquétipos masculinos, os mitos e a estrutura sendo enfaticamente patriarcais. Mesmo que existam figuras femininas honradas e celebradas, elas não são consideradas forças primordiais e criadoras, seus papéis e atribuições sendo secundários.
Apesar de, no momento, essas religiões prevalecerem no cenário mundial, a origem delas é relativamente recente. Há provas irrefutáveis de um antiquíssimo culto a uma Divindade Criadora chamada genericamente de “A Grande Mãe”, como comprovam milhares de estatuetas de figuras femininas datadas dos períodos paleolítico e neolítico (50.000 a 30.000 anos atrás).
Antes consideradas meras “vênus pré-históricas”, esses objetos de culto em pedra, argila, osso ou mármore são vistos atualmente como representações da Deusa Mãe, conforme comprovam os estudos, livros e pesquisas de cientistas mulheres (antropólogas, arqueólogas, sociólogas, historiadoras, escritoras).
A Grande Mãe representa a totalidade da criação e a dualidade vida/morte, pois sua essência é imanente e permanente em todos os seres e em todo o Universo. Seus múltiplos aspectos e manifestações representam e reproduzem o ciclo de nascimento, crescimento, florescimento, decadência, morte e renascimento da eterna dança espiral das vidas.
A Deusa Mãe foi a suprema divindade do planeta durante pelo menos trinta milênios, reverenciada por seu poder de gerar, criar, nutrir, proteger e sustentar todos os seres. Conhecida sob inúmeros nomes e representações de acordo com a cultura e a época, a Deusa era a própria Mãe Terra, a energia da vida e morte do planeta, venerada no ciclo das estações, nos fenômenos da Natureza, na riqueza e na beleza da terra, do céu, das estrelas, das montanhas, das águas, das plantas e dos animais.
Com o advento das idades de bronze e do ferro, as pacíficas civilizações matrifocais da Deusa entraram em declínio. Invasões sucessivas de tribos guerreiras e nômades trouxeram uma onda de violência e destruição. Uma nova civilização baseada em modelos de dominação e autoritarismo foi imposta, iniciando-se a perseguição da antiga religião da Deusa e de suas representantes – as mulheres. Os invasores trouxeram um panteão de deuses guerreiros, donos das tempestades, dos raios e das batalhas. O sexo da criadora foi mudado – a Mãe tornou-se Pai e a Deusa, transformada em consorte, filha, amante - depois finalmente ignorada e esquecida.
Seguiu-se a Idade da Razão e, com o surgimento do racionalismo e das correntes materialistas e dialéticas, a supremacia do espírito sobre a matéria passou a ser negada. Somente no século XIX o movimento romântico trouxe de volta valores femininos - no entanto, de uma forma idílica, idealizando somente as virtudes e a fragilidade da mulher. Infelizmente, o monoteísmo judaico-cristão, que proclamou um só criador – o Pai - e considerou a mulher a origem do pecado e de todos os males, suprimiu os símbolos do poder divino da Deusa, como sendo maléficos ou pecaminosos. Mesmo assim, as imagens, os atributos e nomes sagrados das tradições da Deusa (principalmente de Inanna, Cibele, Deméter e Isis) foram absorvidos e adaptados no culto de Maria. Com a extinção definitiva dos cultos da Deusa nos países cristianizados e a conseqüente perseguição e difamação dos valores sagrados femininos, somente fragmentos das antigas celebrações, tradições, práticas e conhecimentos velados permaneceram disfarçados nas crenças populares, nos costumes folclóricos, nos contos de fadas, nas terapias xamânicas.
No entanto, observa-se atualmente, no mundo todo, o ressurgimento dos valores e da busca do Sagrado Feminino, como uma necessidade de cura profunda da psique individual e coletiva fragmentada pela dicotomia da racionalidade. O movimento feminista encontrou nos arquétipos das Deusas modelos positivos de fortalecimento e auto-transfomação. A emergência da Deusa na consciência ocidental trouxe uma nova/antiga visão da Terra, favorecendo o surgimento da hipótese Gaia (da interdependência de todas as formas de vida no planeta ), das preocupações ecológicas, das terapias xamânicas, da renovação nas religiões fundamentalistas e tradicionais como o cristianismo e o judaísmo. Religiosos católicos como Matthew Fox estão aceitando uma nova visão de Deus como Mãe, a freira Meinrad Craighhead está pintando imagens de deusas vistas emsonhos e visões, as mulheres judias voltam a reverenciar Shekinah, a representação hebraica da divindade feminina.
Os movimentos neo-pagãos, como as várias vertentes da Wicca, as tradições xamânicas de várias origens, algumas Escolas de Mistérios e uma multiplicidade de seitas e organizações estão adotando a teologia dualista, reverenciando ambos os princípios - o Deus e a Deusa - e acrescentando uma fusão de antigas crenças folclóricas européias ou nativas, reminiscências dos antigos festivais agrários, arquétipos mitológicos e práticas mágicas e curativas, tradicionais ou recentes. Nesta amalgamação de crenças sobressaem-se o reconhecimento e a reverência à Deusa, com adaptações regionais ou pessoais.
Há também uma crescente divulgação da espiritualidade feminina na literatura, arte, música e terapia. O eco-feminismo ou o ativismo político e ecológico, o empenho para a transformação interior e a conseqüente necessidade da renovação individual e global são sinais evidentes e benéficos do retorno da Deusa. Sua volta não significa retomar as antigas práticas e crenças religiosas, mas revalidar o Sagrado Feminino, criar uma nova cosmologia centrada na Terra, curar as cisões individuais e coletivas, promover uma nova ética baseada em valores espirituais e a reverência pela vida, buscar soluções pacíficas para a nossa sobrevivência e convivência, realizando assim, em nós e ao nosso redor, o Casamento Sagrado: da luz e da sombra, do espírito com a matéria, do animus com a anima, do Céu com a Terra.


Texto de Mirella Faur

domingo, 7 de junho de 2009

SAGRADO FEMININO E A DEUSA TRÍPLICE

A Deusa está intimamente relacionada à Lua por uma série de motivos. A relação mais clara é a de que a Lua cresce e declina, refletindo as alterações no corpo das mulheres quando estão grávidas. A Deusa rege o crescimento e o próprio tempo. A Lua é o símbolo do princípio feminino, representando potencialidades, estados de espírito, valores do inconsciente, humores e emoções, receptividade e fertilidade, mutação e transmutação. As fases da Lua caracterizam aspectos da natureza feminina e representam os estágios e as transformações na vida da mulher. As deusas lunares são conhecidas por traços ligados às quatro fases da Lua: nova, crescente, cheia e minguante, sendo que as deusas têm as seguintes faces: Donzela, Mãe e Anciã, além da face "negra" que se manifesta em todas elas, sendo a sua sombra. A Donzela se relaciona à lua nova e crescente, aos novos inícios. A Mãe é representada pela lua cheia, abundante. A Anciã é representada pela lua minguante e negra, senhora das sombras. A Grande Deusa Lunar está associada aos nascimentos virginais, ligada à vida e à morte e é a geradora de visões. A virgindade, antigamente, significava "não-casada", e não como é conhecido hoje. Dizer que uma virgem deu à luz um filho não significava que ela nunca teve relações sexuais, mas que não era casada. Em diversos mitos, a Deusa Lunar geralmente controla um filho que cresce e se torna seu amante. Ele então morre, para renascer de novo como seu filho. Isso reflete os mistérios lunares nos quais os eventos cronológicos não têm importância, pois a Deusa Lunar controla o seu próprio tempo. A Deusa da Lua é associada aos fluidos de todos os tipos, invariavelmente, pela própria influência da Lua sobre a Terra.

Texto de Natalia Greggio

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