Por Rosane Volpatto
"Fui até lá
de livre vontade
Fui até lá
com meu vestido mais lindo
minhas jóias mais preciosas
e minha coroa de Rainha do Céu
No Inferno
diante de cada um dos sete portões
fui desnuda sete vezes
de tudo o que pensava ser
até que fiquei nua daquilo que de fato sou
Então eu a vi
Ela era enorme e escura e peluda e cheirava mal
tinha cabeça de leoa
e patas de leoa
e devorava tudo que estivesse à sua frente
Ereshkigal, minha irmã
Ela é tudo o que eu não sou
Tudo o que eu escondi
Tudo o que eu enterrei
Ela é o que eu neguei
Ereshkigal, minha irmã
Ereshkigal, minha sombra
Ereshkigal, meu eu"
Imagem: Carta do Oráculo da Deusa
Fonte: Trecho do artigo de Rosane Volpatto -
"Fui até lá
de livre vontade
Fui até lá
com meu vestido mais lindo
minhas jóias mais preciosas
e minha coroa de Rainha do Céu
No Inferno
diante de cada um dos sete portões
fui desnuda sete vezes
de tudo o que pensava ser
até que fiquei nua daquilo que de fato sou
Então eu a vi
Ela era enorme e escura e peluda e cheirava mal
tinha cabeça de leoa
e patas de leoa
e devorava tudo que estivesse à sua frente
Ereshkigal, minha irmã
Ela é tudo o que eu não sou
Tudo o que eu escondi
Tudo o que eu enterrei
Ela é o que eu neguei
Ereshkigal, minha irmã
Ereshkigal, minha sombra
Ereshkigal, meu eu"
Trecho de um artigo de autoria de Rosane Volpatto
Inanna era a Deusa da Suméria responsável pela reprodução e fecundidade, prolongamento da tradição das "Deusas-Mães" atávicas. Inanna, certa vez, tomou a iniciativa de fazer uma visita ao deus da sabedoria, que morava no Abzu, o céu dos deuses sumérios, a morada deles. Tinha como propósito honrá-lo e lhe proclamou uma oração. Enki era o deus sumério que conhecia as leis do céu e da terra, o coração dos deuses, assim como todas as coisas. Inanna era a Rainha do Céu e da Terra, mas não sabe nada do submundo e sua missão agora é desvendar seus segredos. Ela descerá para presenciar os rituais de sepultamento de Gugalana (grande touro do céu), marido de sua irmã-avó Ninlil-Ereshkigal, Rainha do Submundo que reinava sobre os 7 infernos dos submundos. Inanna deveria testemunhar de modo presente a sombra reprimida do Deus celeste, o fato dele ter sido um estuprador e por isso mandado para o mundo subterrâneo como castigo.
Haviam 7 portais que Inanna deveria cruzar rumo ao seu objetivo final. Em cada uma destas portas se vê despojada de seus instrumentos de poder, desde sua coroa até suas vestes. No sétimo e último portal, totalmente nua encontra-se com Ereshkigal, sua irmã e rival.
A retirada de todos seus pertences se faziam necessário, porque o "ego" tentaria se defender com todos os seus poderes conscientes. A coroa de Inanna, por exemplo, significava o seu poder intelectual.
Suas jóias e adornos, simbolizavam seu poder de agir e a sua habilidade crítica de julgar. As suas vestes reais, seriam as defesas de seu psique e uma das formas de proteção contra tudo e todos. Totalmente nua, seria a única forma com que Inanna poderia se relacionar com sua sombra. Neste estado vulnerável, Inanna enfrenta sua irmã (sua sombra), é presa e crucificada num poste do mundo inferior, constituindo-se numa imagem de divindade feminina agonizante. Como qualquer iniciada, ela se rende corajosamente ao próprio sacrifício, para ganhar nova força e conhecimento. Como a semente que morre para renascer, a Deusa se submete.
Sozinha e na escuridão, Inanna decompõe-se. Mas nem tudo está perdido, esta experiência e a aceitação de sua vulnerabilidade, a descoberta da necessidade do sacrifício e da morte para que os ciclos da vida se perpetuem, aumentam o poder de Inanna, assim como sua compreensão e beleza. Inanna oferece-se em sacrifício, testemunha a morte das forças férteis e traz a si mesma como semente. E de sua imolação voluntária depende a continuidade da criação. A idéia fundamental é de que a vida só pode nascer do sacrifício de outra vida.
É Ninshubur que dá o alarme depois que Inanna se ausenta por mais de três dias, conclamando mulheres e homens e pedindo a intercessão dos deuses celestes em favor da Deusa. Ambos os deuses, o celeste e o lunar, recusam-se ou não ousam resgatar Inanna do local de estagnação do Mundo Inferior. É somente de Enki que receberá ajuda. Ele é o deus da sabedoria, que mora no fundo do abismo. Em vários mitos ele aparece ao lado de Inanna. Da sujeira que estava embaixo das suas unhas pintadas de vermelho de uma de suas mãos ele cria Kurgarra e da sujeira da outra, Kulatur. Eles são descritos como criaturas que representam a atitude fundamental para atrair as bençãos da Deusa Escura.
A retirada de todos seus pertences se faziam necessário, porque o "ego" tentaria se defender com todos os seus poderes conscientes. A coroa de Inanna, por exemplo, significava o seu poder intelectual.
Suas jóias e adornos, simbolizavam seu poder de agir e a sua habilidade crítica de julgar. As suas vestes reais, seriam as defesas de seu psique e uma das formas de proteção contra tudo e todos. Totalmente nua, seria a única forma com que Inanna poderia se relacionar com sua sombra. Neste estado vulnerável, Inanna enfrenta sua irmã (sua sombra), é presa e crucificada num poste do mundo inferior, constituindo-se numa imagem de divindade feminina agonizante. Como qualquer iniciada, ela se rende corajosamente ao próprio sacrifício, para ganhar nova força e conhecimento. Como a semente que morre para renascer, a Deusa se submete.
Sozinha e na escuridão, Inanna decompõe-se. Mas nem tudo está perdido, esta experiência e a aceitação de sua vulnerabilidade, a descoberta da necessidade do sacrifício e da morte para que os ciclos da vida se perpetuem, aumentam o poder de Inanna, assim como sua compreensão e beleza. Inanna oferece-se em sacrifício, testemunha a morte das forças férteis e traz a si mesma como semente. E de sua imolação voluntária depende a continuidade da criação. A idéia fundamental é de que a vida só pode nascer do sacrifício de outra vida.
É Ninshubur que dá o alarme depois que Inanna se ausenta por mais de três dias, conclamando mulheres e homens e pedindo a intercessão dos deuses celestes em favor da Deusa. Ambos os deuses, o celeste e o lunar, recusam-se ou não ousam resgatar Inanna do local de estagnação do Mundo Inferior. É somente de Enki que receberá ajuda. Ele é o deus da sabedoria, que mora no fundo do abismo. Em vários mitos ele aparece ao lado de Inanna. Da sujeira que estava embaixo das suas unhas pintadas de vermelho de uma de suas mãos ele cria Kurgarra e da sujeira da outra, Kulatur. Eles são descritos como criaturas que representam a atitude fundamental para atrair as bençãos da Deusa Escura.
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Refletindo:
Inanna marcha com determinação para o mundo inferior, indo de maneira ativa e consciente para o auto-sacrifício. É assim que a mulher moderna tem que aquiescer e cooperar na introversão e regressão necessárias ao mundo subterrâneo, o mundo dos níveis arcaicos e mágicos da consciência. Deve descer para encontrar seus começos instintivos e encarar a face da Grande Deusa, e a sua própria antes de ter despertado para a consciência. Deve ir até a matriz das energias transpessoais antes de elas terem sido liberadas e tornadas aceitáveis. É o sacrifício do que está em cima em favor do que está embaixo. A Terra e o Mundo Subterrâneo vistos como uma descida, e também como um processo de transformação, não apenas correspondem à experiência de muitos indivíduos em processo de individualização, mas ainda, pode demonstrar que se trata de um evento coletivo da cultura moderna como um todo.
Imagem: Carta do Oráculo da Deusa
Fonte: Trecho do artigo de Rosane Volpatto -
Olá Kátia
ResponderExcluirnão conhecia esta deusa e fiquei apaixonada pela sua história, obrigada pela partilha. O poema é lindo.
Atrevo-me a dizer que a passagem pelos 7 portais pode também ser um ensinamento sobre a importância de conhecermos os nossos 7 centro mágicos.
Adorei, beijocas
Olá Shin querida,
ResponderExcluirObrigada pelo carinho e pela visita, fico contente que tenha gostado. Realmente o mito de Inanna é belíssimo, e forte também. E concordo contigo quanto à importância de conhecermos os nossos 7 centros mágicos.
Aos poucos, quero ir postando mitos de diversas Deusas aqui. O livro Oráculo da Deusa é meravilhoso (não sei se vc conhece) - as cartas são lindas e as vivências propostas são bem profundas.
Um beijo de muita luz!
Não Kátia de facto não conheço esse livro, mas vou pesquisar e ver. Deusas nunca é muito o que podemos aprender com elas. A minha deusa do coração é mesmo Ísis :) mas sinto que posso aprender com todas, mesmo se a Ísis é o somatório de todas ;)
ResponderExcluirBeijocas
Oi
ResponderExcluirGostei do seu blog. Conteúdo me chama a atençao.
Tambem amo os mistérios, apesar de dizerem que eu já sou um mistério indecifrável. ahahah
abraços
Kátia, que belo post! Há ainda mais uma obra que indico, pois trata sobre este tema: "O caminho para a iniciação feminina". Autora: Sylvia Brinton Perera. Editora: Paulus. Beijo.
ResponderExcluirObrigada queridos!
ResponderExcluirPuxa Adelia, não conheço a obra que você citou, mas vou procurá-la, com certeza. Os livros da Editora Paulus costumam ser muito bons. Super obrigada pela dica!
Um abraço a todos, fiquem na luz.
Kátia. Como sempre, os seus textos são de alto conteúdo. Hoje passei aqui para lhe dizer que deixei um selinho de presente lá no meu blog. Beijos.
ResponderExcluirParabéns! Gostei muito do conteúdo do blog! Muito inteligente e intuitivo. Valeu!!
ResponderExcluirFantastico!
ResponderExcluirMuito profundo e bem escrito.